História
O Arboreto de Barcelos – um jardim botânico invulgar
Tudo começou quando, em finais de 1985, foi entregue à Escola Secundária de Barcelos o seu novo edifício, implantado num espaço com algum declive. Em toda a área escolar e entre as construções ficaram vários espaços destinados a ajardinamento, abrangendo uma superfície total de 1 hectare.
Naturalmente, logo se colocou a questão da qualidade paisagística e educativa que deveria ser dada ao ajardinamento de tão importante espaço.
Poderia, como é aliás comum fazer, colocar-se nessa área algumas dezenas das árvores e arbustos utilizados no embelezamento das praças e artérias urbanas. Nesse caso, porém, estaríamos na presença de um vulgar jardim, que, não deixando de ter algum interesse, nomeadamente paisagístico, apresentar-se-ia com muito reduzida utilidade pedagógico-didática e educativa.
Poderia também optar-se pela criação de um jardim botânico clássico. Mas esta opção exigiria, por um lado, condições de investigação científica e, por outro, exigências técnicas e financeiras incomportáveis para uma Escola Secundária. Teve que ser, por isso, desde logo posta de lado.
Excluídas estas hipóteses, procurou-se encontrar uma solução que pudesse concretizar um projecto escolar que fosse educativo, mas exequível, isto é compatível com os recursos humanos, técnicos e financeiros de uma escola de nível secundário: que, concomitantemente, comportasse a necessária vertente científica exigível a um estabelecimento escolar de nível secundário e, ainda, que fosse, tanto quanto possível, inovadora.
Foi assim que surgiu a ideia de um jardim botânico temático com árvores, arbustos e subarbustos autóctones de Portugal Continental que rapidamente começou a concretizar-se e a que foi dado o nome, primeiramente, de Arboreto de Flora Autóctone de Portugal Continental e, mais tarde, de Arboreto de Barcelos, quando a Câmara Municipal se associou ao projecto. Mais recentemente, decidiu-se enriquecer o projecto com algumas plantas herbáceas vivazes (sobretudo bolbos, tubérculos e rizomas) nativas, raras, invulgares ou em risco de sobrevivência na Natureza.

Estrutura
Como critério geral de distribuição das plantas, considerou-se mais educativo seguir o critério fito geográfico da cobertura florística natural de Portugal. Para tal recorreu-se à classificação feita por Pina Manique e Albuquerque que divide Portugal continental em 30 zonas fito-climáticas e 7 edafo-climáticas, com base na existência de 5 pólos de diferenciação ecológica, a saber: Atlântico (clima chuvoso e húmido, inverno moderado, estio mesotérmico), e que corresponde aproximadamente ao noroeste de Portugal continental; Termo‑atlântico (clima mais ou menos chuvoso, húmido e mesotérmico), que corresponde ao centro/sul litoral; Ibérico (clima pouco chuvoso. estio quente e inverno microtérmico), que corresponde ao nordeste e centro/leste; Eu‑mediterrânico (pluviosidade mediana, inverno suave, estio seco e mesotérmico), que corresponde aproximadamente a algumas zonas do Algarve e do Baixo‑Alentejo; e Oro‑atlântico (clima chuvoso, inverno frio, estio mesotérmico), que corresponde às zonas de maior altitude do continente português.
A correspondência dos canteiros com os respectivos pólos foi feita tendo em consideração as características físicas do terreno, nomeadamente o grau de inclinação e orientação solar de cada um. Assim, por exemplo, as plantas pertencentes ao pólo Eu-mediterrânico foram plantadas nos taludes mais íngremes e mais abrigados do vento norte. Por outro lado, a distribuição das árvores e arbustos em cada um dos canteiros foi planeada segundo o porte e exigências de luminosidade de cada taxon.
Para melhor aclimatação de alguns taxa, projectou-se a construção de uma lagoa e de uma linha de água, onde foram colocados preferencialmente alguns fetos, bem como outras plantas hidrófilas.
Posteriormente, num terreno que estava destinado à eventual construção de um terceiro bloco escolar, criou-se um parque de lazer, espaço arborizado e paisagisticamente enriquecido com um lago, onde foram plantadas as árvores e os arbustos de maior porte da flora caducifólia portuguesa. Este parque tem uma função predominantemente recreativa.
Atualmente, em face das obras de remodelação do espaço escolar, a área de jardim foi aumentada, os 2 lagos foram substituídos por espelhos de água, no antigo parque de lazer foi construída uma estufa tendo este espaço desaparecido, foram implementados percursos por todo o espaço do Arboreto.
Objetivos
Natureza didática
Colocado numa escola, o primordial objectivo deste jardim botânico tem que ser de natureza didática. Por isso, já está a servir a comunidade escolar, que tem nele um instrumento importante, um grande laboratório vivo, para a realização de observações e experiências relativas aos conteúdos programáticos de uma parte substancial das disciplinas leccionadas nas escolas secundárias.
A sua função, porém, não é apenas essa. Alarga-se a objetivos educativos mais genéricos, nomeadamente à educação para a defesa da natureza e do meio ambiente, imperativo que se torna cada vez mais importante numa sociedade que não tem sabido progredir de forma equilibrada e que corre o risco de provocar ruturas irreversíveis no planeta, com consequências que podem, a longo prazo, ser catastróficas. Neste sentido, este projeto é uma permanente chamada de atenção para a necessidade de proteger a biodiversidade e o ambiente, sendo um incentivo para uma maior estima pela natureza em geral e pelas florestas em particular.
O facto de o Arboreto de Barcelos incluir apenas flora autóctone tem também um importante papel educacional. Os taxa lenhosos portugueses integram-se perfeitamente, e duma forma equilibrada, no conjunto dos sistemas biológicos do espaço português. A introdução de espécies de outros continentes, por um lado, e a profunda e forçada alteração da geografia florestal continental, por outro, têm vindo a criar perigosos desequilíbrios de cujos efeitos já estamos a ser vítimas (como é o caso mais flagrante do eucalipto e da invasão de acácias), problema do qual as nossas crianças, adolescentes e jovens devem tomar consciência.
É dentro deste espírito que, além dos professores, muitos alunos têm participado ativamente na prossecução desta iniciativa, nomeadamente em tarefas de colheita, plantação e limpeza, participação essa que deverá ser continuada e incrementada.
Para terminar, informa-se que a Escola Secundária de Barcelos está aberta a receber, para visitas guiadas, todos aqueles (investigadores, técnicos, professores, estudantes ou simples interessados) que desejem conhecer ao vivo esta experiência que tanto prazer e honra cívica tem dado àqueles que a estão a levar por diante.
As visitas devem ser feitas preferentemente nos meses de abril, maio, junho, julho, outubro e novembro.
Tem constituído um enorme esforço do corpo docente, do corpo discente e dos trabalhadores desta escola, não só a manutenção do Arboreto em óptimas condições, como também o acompanhamento do elevado número de visitantes.